31 agosto, 2010

A GALINHA QUE CONTAVA HISTÓRIAS

                         

Para a meninada não existe programa melhor do que passar as férias na casa das vovós que gostam de paparicar seus netos.
Quando ao lado desta casa moram também as tias, aí a coisa fica mais gostosa.
Então é festa pura!
Bolinhos, doces, biscoitos, e o barulho da meninada que se reúne para brincadeiras diversas que só terminam quando já se faz noite alta.
Terminada a brincadeira, dormir cedo nem pensar.
É preciso contar tudo que acontece na cidade de cada um para que todos possam ficar por dentro das novidades.
Tudo dito, é hora de dormir para levantar cedo, porque o dia seguinte será longo.
Andar a cavalo, nadar, subir em árvores, procurar toca de coelho, chupar fruta debaixo do pé, assustar o gato, correr atrás das galinhas, fazer carinho no cachorro e ficar olhando o pintinho sair do ovo.
Eram tantas crianças que mal dava para guardar o nome ou o apelido de cada uma delas.
Pedro, Paulo, Karine, Bernardo, Miguel, Patrícia, Bárbara, Cleiton, Rafael, Henrique, Marcus, e muitos outros.
A fazenda ganhava vida nova em todas as férias porque era sempre nesta ocasião que os primos se reúnem para esquecerem a vida atrás dos muros ou a prisão dos apartamentos, e correrem em liberdade.
Não dá para dizer qual é o mais peralta, e como em todo grupo alguém sempre se destaca, a dupla Pedro e Paulo era considerada a mais traquina. 
Eles não perderam tempo e trataram mais do que depressa de confirmar a fama.
Levantaram bem cedo, tomaram café e saíram com a turma que por alguns dias iriam esquecer os videogames e as lan-houses  que aprisionam a infância.
Depois de um mergulho gostoso no riacho de águas cristalinas deram uma passada pelo galinheiro, e aproveitando que as donas da casa estavam ciscando pelo quintal destruíram alguns ninhos, quebraram alguns ovos, e quando o galo se aproximou fizeram o mesmo baixar a crista e o puseram para correr.
Davam sonoras gargalhadas.
Tremeram de susto quando uma voz ecoou no fundo do galinheiro.
O que pensam que estão fazendo?
Por acaso isso é brincadeira?
E ainda tem coragem de dar gargalhadas!
Quem vocês pensam que são?  Acham que podem vir aqui expulsar o dono da casa e assustar nossos pintinhos?
Acham que isso é diversão?
Os dois tremiam como vara verde.
- Pergunta quem é, disse Paulo.
- Pergunta você, retrucou Pedro.
Antes que dupla batesse em retirada, uma galinha bem gorda pulou do seu ninho e se colocou bem à frente dos dois.
Uma galinha!
Ficaram tão espantados e com medo que saíram em disparada e foram se aconchegar no colo da avó, que não deixou por menos.
O que vocês aprontaram?
Tenho certeza que fizeram mais uma de suas diabruras.
-Que nada vó, não fizemos nada, é que apostamos uma corrida para ver quem chegava primeiro.
Tem bolo aí?
É claro que tinha bolo, e enquanto comiam, conversavam.
-E agora Pedro, o que vamos fazer?
-Sei lá respondeu Paulo, vamos contar para todo mundo.
-Ficou maluco?  
Quem vai acreditar em galinha que fala?
Vão pensar que somos malucos e que ficamos doidinhos.
-É verdade, e então?
-Então o quê?
Ficaram em silencio por alguns instantes e decidiram não contar nada para os primos e brincaram o resto do dia como se nada tivesse acontecido.
Naquela noite não conseguiram dormir, e no outro dia, foram bem cedinho para o galinheiro, e desta vez entraram bem devagarzinho e em silencio.
-Bom dia.
Muito bem, hoje vocês estão se comportando como dois homenzinhos, disse a galinha.
-Fala Pedro!
-Falar o quê?
-Responda você.
-Tá bom!
-Queremos pedir desculpas por tudo que fizemos e também por sairmos correndo daquela maneira.
Também, a gente não sabia que galinha falava, e muito mais com a gente.
-Vocês são os primeiros.
Eu nunca conversei com nenhuma pessoa desta fazenda.
-Porque resolveu conversar justamente com a gente, perguntou Pedro?
-É que vocês são uns garotos espertos, e sem perceberem as suas peraltices estavam colocando em desordem o nosso galinheiro.
Foi preciso falar para que pudessem perceber que não era certo o que estavam fazendo. Os nossos pintinhos ficaram muitos assustados e se o galo quisesse poderia ter machucado vocês com suas afiadas esporas.
-Podemos chamar os outros e contar para todo mundo que você fala?
-De maneira alguma, se descobrem vão querer me levar para um circo, para uma praça, e com certeza irão arranjar um jeito de ganhar dinheiro me obrigando a falar vinte e quatro horas por dia.
Este é um segredo só nosso, mesmo porque, se disserem para outras pessoas e alguém chegar aqui querendo me ouvir vou ficar muda como sempre fiquei.
Agora, que é legal conversar com crianças, isso é.
-Podemos vir todos os dias para conversar?
-Claro, adoro contar histórias, quando voltarem contarei uma bem bonita.
-Então está certo, não vamos contar para ninguém e todos os dias viremos para saber das novidades e ouvir suas histórias. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui você é muito bem vindo. Seu comentário ajuda na construção desse espaço de liberdade